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20051203

Identidade

Vestido de chita
Lenço de seda
Xale de linha
Laço de fita

Pé no chão
Cabelo no vento

(pe-de-vento)

Chuva de estrelas

Rasa

Sou feito banca de especiarias
Jeito pimenta-rosa
Um traço de cardamomo
Fresca manjericão
Azeda com fome ou sono.
Posso ser carqueja pra algumas gentes.
Não sou cor de canela não.
Branca açúcar impalpável.

Lágrima

depois da chuva
poça enlameada
também finge céu

conta a gota
veste disfarce na dor
colar de pérolas

20051120

Moldura do Tempo

senhora do dia
brinca pela fresta
dorme sol poente

teia de aranha
filigrana na praça
verde desbotado

teia de aranha
filigrana na praça
ver desbotado

Percurso

a mangueira
faz árvore de natal
monocromática

algodãozinho
pra moça da Índia
temperar sua cor

vasto horizonte
olhar nem tudo alcança
poeira solar

20051114

Vinte Minutos

folhagem densa
verde por trás do verde
oculta vista

casas empilhadas
antena no telhado
parece saber

castelo de pedra
no centro da praça
ninho das pombas

luz de vidro
desprende do teto
ruído reluz

lição de casa III

vento (e) estrada
árvore entortada
aprume (a) vista

bola que rola
pelo meio das costas
respira outro

verbo vazio
palavras e o vento
língua inocente

20050922

Eco (sobre o Flamenco, apreender a cultura & aprender a coreografia - fragmento nuclear)

Me sinto muito pequena em escrever assim, aqui, tão pouco tempo respirando essa arte, mas lá vai...
Me parecem a princípio duas coisas:
- quando a gente começa numa linguagem, a gente copia mesmo.
Aí, quem é elegante cita o/a autor(a) da coreografia.
Copiar tem seus méritos, algumas pinturas geniais chegaram até nós por conta do trabalho dos alunos que copiavam o estilo do professor-grande-mestre pra aprender e por vezes preenchiam os quadros e o mestre só ia lá finalizar e assinar, prática corrente até hoje. (Esculturas também!).
Copiar tem seus méritos, mas não para alguns não basta. Aos famintos resta o ralador e o caminhão de cocos, ralando um pouco por dia, se adonando e se entregando à linguagem, à estética, ao "ticoticotataticoticoticotacaumcaumcata",ao "aire".
E rezando pra Nossa Senhora da Coordenação Motora pra tentar abreviar o desentendimento das partes que fazem O Corpo.
- o espelho pode ser lastimável, quanta gente perde tempo se comparando com o outro na frente do espelho e deixando de perceber a si mesmo e os espaços que preenche e os espaços que cria.
Fica quase tudo preso na fôrma, criando um simulacro, um molde no mais das vezes vazio, onde a fórma esvanece.
Pra (se) enxergar, bacana mesmo é vídeo.
Existe o apelo da nossa sociedade alta-velocidade, tudo tem de ser rápido, tudo tem de alcançar um objetivo visível num tempo pré-determinado, tudo é competitivo e é cobrado e quem lida com o corpo integrado (corpo-emoção-pensamento) sabe que não é assim, há um tempo de maturação das coisas que varia de pessoa para pessoa.
Em se tratando de uma expressão cultural alheia, ainda temos de nos esforçar em estudar e compreender o contexto no qual se insere esta expressão.

Tem também a delicada questão da ÉTICA.
Fora tudo isso, excluindo um(a) professor(a) dedicado, ainda tem o olhar do aluno, que pode estar fazendo Flamenco pelos mais diversos motivos, e até estar pagando pra aprender uma coreografia, porque cada coreografia nova é como uma condecoração pra usar e pra exibir.
Não basta questionar os "ensinadores", há de se questionar/desafiar quem aprende.

A discussão desse tema já é conforto para os que permanecem acordados.

20050921

Córtex

Então, providos de uma caixa preta, cérebro, cismamos existir.
Um frágil equilíbrio, que pode ser deslocado até mesmo pelo sentido da cura.
A regra e a exploração consciente pode garantir alguma sanidade.
E a ida à quitanda também.


20050912

Aqui vamos brincar de juntar o que talvez pareça inconciliável.
Nem sempre o encaixe será perfeito, antes se fará provocativo.

Tenho uma cegueira causada pela predileção dos corpos em movimento.
Qualquer movimento, não.
O gracioso, cheio de vida e de intenção.
O que move corpo íntegro em desidério.
O que faz a mola, a fruição.